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28 Abril
Belém
Curiosidade: Peixe-boi da Amazônia
Autor: Jurupytan Viana
Confira

POR: PROF. DR. JOSÉ LEDAMIR SINDEAUX NETO

O peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) é o menor dos peixes-bois, sendo essencialmente de água doce alcançando até 275 cm de comprimento total e 420 kg de peso (AMARAL et al. 2010). Estes animais são mamíferos aquáticos, pertencentes a ordem Sirenia, com grande longevidade e ampla distribuição nas regiões tropicais. O Brasil é o único país onde ocorrem duas das quatro espécies de sirênios existentes no mundo: o peixe-boi marinho (T. manatus manatus) e o peixe-boi-da-amazônia (T. inunguis) (ICMBIO).

A única área onde ocorre possível coexistência e interrelação entre essas duas espécies é na porção interna da Baía da Ilha de Marajó e o nordeste dessa ilha. Nessa região pode estar ocorrendo a hibridização entre as duas espécies (ICMBIO).

Estes animais são essencialmente herbívoros, não ruminantes, e alimentam-se principalmente de macrófitas aquáticas e semiaquáticas (plantas/vegetais aquáticos), consumindo 8% de seu peso vivo por dia (BEST 1981). A reprodução do peixe-boi é fortemente associada ao ciclo hidrológico da região. O acasalamento e os nascimentos ocorrem quando as águas começam a subir, entre dezembro e julho, e o pico de nascimentos se dá entre fevereiro e maio (ICMBIO).

Estes mamíferos aquáticos migram anualmente desde as áreas de várzea, onde permanecem se alimentando no período de enchente e cheia, até lagos perenes e canais mais profundos de rios, onde estão mais protegidos durante a estação seca. Um estudo com 10 peixes-bois machos monitorados por radiotelemetria revelaram rotas migratórias de aproximadamente 50 km entre Mamirauá e Amanã, na Amazônia Central (ARRAUT et al. 2010).

Ainda que amparados pela Lei de Proteção à Fauna nº. 5.197/67, o peixe-boi-da-amazônia continua sendo o mamífero aquático mais caçado do país, embora em intensidade bem menor do que no início do século passado. O consumo de sua carne é uma tradição na Amazônia, sendo uma fonte de proteína animal do ribeirinho. A captura intencional é na maioria das vezes para fins de subsistência e comércio ilegal (FRANZINI 2013); existem ainda as capturas incidentais em redes de espera ou malhadeiras. A captura das fêmeas paridas e o emalhe de filhotes em redes de pesca (malhadeiras de malha grande) tem sido uma das ameaças enfrentadas pela espécie nas últimas décadas (ICMBIO).

 

O peixe-boi-da-amazônia enfrenta ainda a destruição e a degradação ambiental causadas pelo incremento do setor hidroviário; o aumento da ocupação humana na Amazônia e da demanda por proteína animal; as atividades impactantes das mineradoras e do garimpo; a contaminação por agrotóxicos e fertilizantes; e os programas agropecuários em larga escala, como o plantio de soja na Amazônia e a criação de búfalos em áreas de várzea (ICMBIO).

Dentre as iniciativas de proteção a estes animais, esteve em funcionamento entre 2010 e 2015 o “Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Sirênios (Trichechus inunguis e Trichechus manatus)”, que objetivou aumentar o conhecimento do status de conservação do peixe-boi-amazônico (T. inunguis) e combater a retirada de espécimes da natureza e melhorar o status de conservação do peixe-boi-marinho (T. manatus). Das 38 ações propostas no plano, apenas 39% foram concluídas. As estratégias de conservação para as duas espécies contempladas por este PAN estão sendo reformuladas de acordo com informações obtidas no site oficial do ICMBIO.

A conservação do peixe-boi-amazônico é de grande importância, devido seu papel fundamental no ciclo da matéria e energia nos rios da Amazônia e por esta espécie ser considerada como vulnerável à extinção (provável em se tornar em perigo a menos que suas condições de ameaça diminuam). Essa iniciativa depende de uma ação conjunta entre órgãos governamentais e não governamentais, além da participação da sociedade civil na manutenção de um dos mais belos e complexos animais da fauna brasileira e na criação de mecanismos que disponibilizem a Educação Ambiental à população em geral.   

Peixe-Boi-amazônico Cajuru. Foi resgatado ainda filhote e viveu 63 anos em cativeiro, (De 1957 até 24 de abril de 2020). Símbolo da educação ambiental à todas as gerações de visitantes do Jardim Botânico - Bosque Rodrigues Alves– Belém/PA. Foto: Hanna Paraense.

REFERÊNCIAS

Amaral, R.S.; da Silva, V.M.F.; Rosas, F.C.W. Body weight/length relationship and mass estimation using morphometric measurements in Amazonian manatees Trichechus inunguis (Mammalia: Sirenia). Marine Biodiversity Records, 105: 1-4. 2010.

Arraut, E.M.; Marmontel, M.; Mantovani, J.E.; Novo, E.M.L.M.; Macdonald, D.W.; Kenward, R.E. The lesser of two evils: seasonal migrations of Amazonian manatees in the Western Amazon. Journal of Zoology, 280: 247-256. 2010.

Best, R.C. 1981. Foods and feeding habits of wild and captive Sirenia. Mammal Review, 11: 3–29.

Franzini, A.M.; Castelblanco-Martínez, D.N.; Rosas, F.C.W.; da Silva, V.M.F. What do Local People know about Amazonian manatees? Traditional Ecological Knowledge of Trichechus inunguis in the Oil Province of Urucu, AM, Brazil. Brazilian Journal of Nature Conservation, 11(1): 75-80. 2013.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Sumário executivo do plano de ação nacional para a conservação dos sirênios. 2011. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-plano-de-acao/sirenios.pdf. Acesso em 27 de abril de 2020.

SOUZA, D.A. Peixe-boi da amazônia (trichechus inunguis Natterer 1883): mortalidade e uso do habitat na reserva de desenvolvimento sustentável piagaçu-purus, Amazonas, Brasil. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do INPA. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS NA AMAZÔNIA. Manaus, Amazonas. 2015.

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