20
Maio
Ananindeua
Texto: quando nos sentimos satisfeitos
Boa leitura
Vamos pensar num jantar. Pode ser numa festa de aniversário, num casamento, num batizado. Com toda a família ou então com nossos companheiros e filhos, caso os tenhamos. Se a comida foi bem preparada, com carinho, com amor, com dedicação, pensando em agradar cada um dos participantes, NA MAIORIA DAS VEZES, o resultado é positivo.
Porque o Amor é o principal ingrediente de uma refeição, seja aquela feita por você, seja feita por outra pessoa. “Ah, mas quer dizer que no restaurante e que o cozinheiro nunca me viu na vida, existe amor também?” Claro que há! Amor à arte de cozinhar, amor ao prazer de ouvir os sons, sentir o perfume, provar o sabor do que está sendo feito. Se alguém não sabia, na cozinha, mesmo a profissional, tão cansativa, exigente, estressante e dinâmica, há beleza, poesia, alegria...
Cozinhar também tem a dedicação de aprender mais. Pode ser numa faculdade, durante horas a fio estudando técnicas, lendo livros, pesquisando. Ou então observando alguém fazer, recebendo alguma orientação ou dica de uma pessoa mais experiente. Geralmente a mãe, a tia, a avó. E uma coisa é certa: quanto mais cozinhar melhor. Só se aprende cozinhar, cozinhando!
E uma coisa é muito certa: toda comida conta uma história, conta sobre uma cultura, conta sobre as relações que estabelecemos entre nós mesmos. Aquilo que comemos é parte do que somos. Na verdade, somos aquilo que comemos! Devemos nos orgulhar de nossa cozinha, porque ela é o retrato do calor, da afetuosidade e da paixão do nosso povo.
O ato de cozinhar é um dos mais dignos do ser humano. Um ato de consciência, um ato de liberdade, um ato de soberania. Quão devastadora é uma pessoa que não come. Ou porque não tem acesso, ou porque tem problemas de saúde. Mas mesmos nestes casos dramáticos algo pode ser feito e vidas podem ser transformadas.
Em tempos difíceis, nossos ancestrais buscavam aprofundam suas conexões com suas histórias, raízes, sentidos, porque o futuro é incerto e o presente é uma luta constante. Mas qual a razão de deixar de lado o que foi construído, o que outros antes de nós fizeram e que nos trouxe até este momento? Sob nossos ombros recai uma responsabilidade gigantesca: a de continuar seguindo em frente. Uma canção brasileira muito famosa tem uma frase dramática: “Já choramos muitos/ muitos se perderam no caminho”. Acumulamos perdas e tristezas. E em nome daqueles que trilham outras veredas, fica nosso compromisso em honrá-los.
E a vida não é assim? Um trecho muito conhecido de Guimarães Rosa, autor de Grande Sertão Veredas”, representa tudo isso:
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
Nos sentimos satisfeitos com o prazer alheio, a certeza de um bom trabalho, de ter dado a alguém uma boa experiência e um momento de felicidade. Na cozinha, isso representa um elogio, quem sabe olhos fechados, sorriso no canto da boca e um prato vazio, raspado. Um instante tão singelo, que tem por trás de si tanto estudo, tanto esforço, noites insones e preocupações.
Quando a gente ama o que faz, só consegue se sentir satisfeito mesmo quando em nome de um sonho, de realização pessoal e profissional, do compromisso em tornar este mundo um lugar mais prazeroso de viver. Aí é quando temos a certeza de que deixamos tudo de nós e estamos em paz com isso.
Coragem, o serviço não acabou ainda!
PROF.ESP. BRUNO FERREIRA
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