UNAMA | Ser Educacional Unama
02 Dezembro
Belém
Confira o texto do professor José Ledamir sobre o inverno e a hibernação dos ursos
Por Jurupytan Viana

                                                                                       O INVERNO E A HIBERNAÇÃO

 

POR: PROF. DR. JOSÉ LEDAMIR SINDEAUX NETO

 

Chegamos ao final de mais um ano, onde no norte associamos inevitavelmente a climas mais amenos, noites mais longas e muita, muita preguiça. Além claro de todo o espectro natalino que contribui para os melhores cenários possíveis de descanso e sonolência.

Você sabia que em condições de extremo frio os animais desenvolveram mecanismos incríveis de adaptação? Então leia tudo atentamente a seguir....

O corpo é uma máquina biológica que depende de intermináveis reações químicas para manutenção de suas atividades vitais, e estas por sua vez podem variar de acordo com as condições de temperatura a qual estão expostas, logo, a temperatura corporal é fundamental para a manutenção destes fenômenos.

Na natureza existem dois grandes grupos de animais divididos de acordo com suas características de termorregulação, ou seja, sua capacidade de regular através de mecanismos fisiológicos ou comportamentais sua temperatura corporal, sendo classificados como Pecilotérmicos ou Homeotérmicos.

Os Peixes, répteis e anfíbios são PECILOTÉRMICOS (ectotérmicos), também conhecidos como “animais de sangue frio”, o que não significa que tais animais não regulam a sua temperatura corporal, na verdade, eles se utilizam de aspectos relacionados ao ambiente em que vivem para realizar esse controle desde o ambiente externo até o interno (intracorpóreo), tecnicamente, todas as suas atividades metabólicas são diretamente proporcionais à temperatura a qual estão expostos ou se expõem de forma proposital.

Os mamíferos e as aves desenvolveram mecanismos pelos quais a temperatura corporal é mantida em um nível relativamente constante, “independente” (exceto em condições extremas) do ambiente e são classificados como HOMEOTÉRMICOS (endotérmicos) ou animais de sangue quente, o que significa que estes mantêm sua temperatura corporal constante, “apesar das variações ambientais” devido um controle intrínseco (HOMEOSTASE e TERMORREGULAÇÃO fisiológica).

Para controlar suas temperaturas, estes animais mantém uma elevada taxa metabólica, onde o principal resultado deste trabalho é o calor ou efeito calorigênico. Isso faz com que esses animais estejam constantemente em busca de alimentos e em movimento.

Os animais homeotérmicos, desenvolveram um mecanismo fantástico de adaptação e foram selecionados a partir deste, para resistir às intensas adversidades presentes nos períodos de invernos mais rigorosos, onde a escassez de alimentos e os extremos térmicos negativos seriam incompatíveis à sua capacidade de termorregulação, sendo conhecido como HIBERNAÇÃO.

A hibernação é um processo radical, onde as alterações envolvem não apenas as funções fisiológicas evidentes, mas também alterações celulares e subcelulares. Todas as funções fisiológicas são mantidas, embora a um nível reduzido e durante esse processo, a temperatura corporal é reduzida expressivamente a um nível compatível com a sobrevivência das espécies. Os animais entram em letargia e extrema sonolência e inatividade; a frequência respiratória e cardíaca reduzem aos níveis basais, e o metabolismo mantém-se apenas suficiente para a preservação vital destes animais.

Qualquer animal homeotérmico que permaneça inativo durante muitas semanas, com temperatura corporal inferior à normal, está em hibernação, embora as mudanças fisiológicas que acontecem durante o letargo sejam muito diferentes, de acordo com as diferentes espécies.

Os ursos, esquilos, marmotas, morcegos, hamsters e ouriços são alguns dos animais que hibernam.A hibernação pode durar desde algumas semanas até meses e durante este período o animal consome a gordura acumulada em seu corpo ou acorda de tempos em tempos para comer alimentos estocados. Estes animais também despertam periodicamente de seu estado dormente para urinar (os rins continuam a produzir urina), se hidratar e se aquecer (Quando a temperatura corporal cai a níveis próximos do congelamento, o animal desperta e reaquece rapidamente).

Diferente da gordura comum nos humanos e na maioria dos mamíferos (Tecido adiposo branco ou amarelo – unilocular), os animais hibernantes apresentam o tecido adiposo marrom (Pardo ou multilocular) que é uma fonte importante de termogênese. Algumas catecolaminas como a epinefrina e a norepinefrina estimulam o aumento do metabolismo do tecido adiposo marrom possibilitando a extração das reservas enérgétiocas ded forma eficaz a partir deste tecido.

A melatonina, hormônio produzido pela glândula pineal (conhecida reguladora circardiana dos dias e noites), tem importante papel na regulação do metabolismo energético de animais hibernantes, nos quais o padrão de secreção anual de melatonina é responsável pela sincronização sazonal dos períodos de hibernação, determinando inclusive, de acordo com seu padrão de secreção o início e o fim da hibernação.

Nós, humanos, não hibernamos de forma natural, apesar de ficarmos mais letárgicos e sonolentos durante o inverno e períodos mais escuros (a glândula pineal tem importante papel aqui). Uma das principais razões para a ausência deste estado são características morfofisiológicas, onde destacamos inclusive nosso tipo de reserva gordurosa (Unilocular) e hábitos comportamentais e sociais que fizeram com que no decorrer da existência humana, fossemos selecionados negativamente em detrimento destes fatores ambientais extremos.

Devido as ações nocivas antrópicas, alguns animais têm alterado suas características hibernantes, pois não conseguem captar, caçar ou coletar alimento suficiente para resistir durante todo o período de inverno rigoroso, o que afeta negativamente a manutenção de muitas espécies. Uma outra realidade é o aquecimento global que têm transformado o clima de muitas regiões, obrigando a fauna da mesma a se adaptar ou seguir rumo a extinção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

CUNNINGHAM, I.G. Tratado de fisiologia veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 5ª ed. 2014.

REECE, W.O. DUKES- Fisiologia dos animais domésticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 13ªed. 2017.

SERAPHIM, P. M.; SUMIDA D. H.; NISHIDE, F. Y.; LIMA, F. B.; CIPOLLA NETO, J.; MACHADO, U. F. A. 2000. A glândula pineal e o metabolismo de carboidratos. Archive Brazilian Endocrinol Metabolism, 44 (4): 331-338.

SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia Animal: adaptações e meio ambiente. 5ª ed. São Paulo: Livraria

Santos Editora, 2002.

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-animais-hibernam-por-que/

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160211_vert_earth_hiberna_humano_fd

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ritmo_circadiano#:~:text=Ritmo%20circadiano%20ou%20ciclo%20circadiano,o%20dia%20e%20a%20noite.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hiberna%C3%A7%C3%A3o#:~:text=A%20hiberna%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20estado,em%20regi%C3%B5es%20temperadas%20e%20%C3%A1rticas.