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09 Abril
Belém
Imunidade cruzada entre Dengue e Zika: uma nova aposta de prevenção à microcefalia?
Autor: Eliane Leite


Yonezava, Igor¹; Ribeiro, Helem Ferreira²
¹Discente do curso de Biomedicina – Universidade da Amazônia (UNAMA)
²Docente do curso de Biomedicina – Universidade da Amazônia (UNAMA)

Há décadas os vírus da Zika e da Dengue intrigam pesquisadores ao redor do mundo. A dengue foi registrada pela primeira vez no Brasil no final do século XIX e só cientificamente comprovada em 1982 (IOC/FIOCRUZ, 2018). Já a Zika é mais recente; o primeiro registro da doença no Brasil foi em 2014, mas de acordo com a pesquisa “Establishment and cryptic transmission of Zika virus in Brazil and the Americas” (FARIA et al., 2017), desenvolvida por 48 Institutos ao redor do mundo - incluindo o Instituto Evandro Chagas em Ananindeua/PA - a Zika teria chegado ao país um ano antes, durante o período das Copas das Confederações. Porém, só em 2015 este vírus começou a causar grandes impactos na saúde pública brasileira.
Mais recentemente, em 2017, pesquisadores chineses do Instituto de Arboviroses da Universidade de Wenzhou (WEN et al., 2017), fizeram testes e descobriram a existência da imunidade cruzada entre Dengue e Zika. Ambos os vírus são arbovírus pertencentes à família Flaviviridae, ou seja, são “primos”, apresentando muitas características estruturais e biológicas em comum.
A imunidade cruzada ocorre quando uma pessoa se infecta com um microorganismo que apresenta estrutura similar a outro, assim, os anticorpos (proteínas de defesa do organismo) responderão as duas doenças. Neste caso, o indivíduo é infectado pela Dengue e desenvolve anticorpos, que também responderão ao vírus Zika. Os resultados da pesquisa feita pela Universidade de Wenzhou apontaram que ratos que adquiriram IgG positivo contra dengue apresentaram melhor resposta imune ao vírus da Zika.

Para testar a imunidade cruzada, foram usados dois grupos de camundongos. O primeiro foi infectado com o vírus da dengue, o segundo não. Ambos os grupos foram expostos ao vírus do Zika, porém o primeiro apresentou sintomas atenuados, inclusive aos efeitos neurológicos, haja vista que a replicação viral do Zika no cérebro destes animais foi diminuída.

A prevenção da microcefalia?

De acordo com esta pesquisa, que foi publicada no prestigioso periódico internacional “Nature Communications”, pressupõe-se que, caso uma mulher engravide e já tenha o IgG da dengue, ela teria baixas probabilidades de ter maiores efeitos do vírus da Zika, consequentemente, protegendo o feto da microcefalia. Entretanto, o filho não terá esta mesma proteção, uma vez que a imunização causada pela dengue não acontece de maneira passiva. Já que a imunização cruzada ocorre tanto de dengue para Zika e vice-e-versa, a grosso modo, é bem melhor para uma mulher que queira ter filhos ser infectada primeiro pela dengue. Do contrário, os efeitos colaterais do Zika seriam piores em relação aos da dengue, se tratando de futuros filhos.

O caminho no combate contra outras doenças

Até onde a imunidade contra o vírus da Zika, ocasionada pelo vírus da dengue, iria prevenir contra a possibilidade da evolução da doença para patologias como o Guillain-Barré? No caso desta síndrome em especial, não se sabe ao certo se esse agravo é realmente causado pela Zika. Porém, estudos levantam grandes suspeitas para essa possibilidade, uma vez que o número de casos aumentou muito em locais onde houve uma grande incidência do vírus.

Resta aguardar o avanço das atuais pesquisas para afirmarmos com mais precisão o real impacto, tanto positivo quanto negativo, do Zika vírus no corpo humano.

 

Referências

BRITO, Débora. Epidemia do vírus Zika no Brasil completa um ano com desafio na área de pesquisa. Agência Brasil, 2016. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-11/epidemia-do-virus-zika-no-brasil-completa-um-ano-com-desafio-na-area-de

FARIA, N. R.; QUICK, J.; CLARO, I.M.; THÉZÉ , J.; JESUS, J. G.; GIOVANETTI, M.; KRAEMER, M. U. G.; HILL, S. C.; BLACK, A. Establishment and cryptic transmission of Zika virus in Brazil and the Americas. In: Nature. Macmillan Publishers, 2017. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nature22401.

IOC/FIOCRUZ. O mosquito Aedes aegypti faz parte da história e vem se espalhando pelo mundo desde o período das colonizações. In: Dengue: Vírus e Vetor. Disponível em: http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/longatraje.html.

IOC/FIOCRUZ. O vírus. In: Dengue: Vírus e Vetor. Disponível em: http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/sobreovirus.html.

WEN, Jinsheng; NGONO, Annie Elong; REGLA-NAVA, Jose Angel; KIM, Kenneth; GORMAN, Matthew J.; DIAMOND, Michael S.; SHRESTA, Sujan. Dengue virus-reactive CD8+ T cells mediate cross-protection against subsequent Zika virus challenge. In: Nature Communications, 2017. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-017-01669-z

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