UNAMA | Ser Educacional Unama
24 Outubro
Belém
Uma breve revisão acerca do Lupus Eritematoso Sistêmico (LES)
Autor: Eliane Leite
Confira o texto

 

¹Jéssica Scarlet Furtado dos Santos

²Julyanne Nogueira de Souza

3 Dirceu Costa dos Santos 

1,2Acadêmicas do oitavo semestre do curso de Bacharelado em Biomedicina da Universidade da Amazônia (UNAMA)

3- Coordenador do curso de Bacharelado em Biomedicina da Universidade da Amazônia (UNAMA)

            O Lúpus Eritematoso Sisitêmico (LES) é uma doença autoimune relacionada a fatores genéticos, ambientais e hormonais. Apresenta quadro clínico diversificado e incide principalmente sobre as mulheres em fase reprodutiva, mas pode ocorrer em todas as raças e países do mundo. O caráter imunológico dessa doença reumática traz um grande risco para a vida da pessoa afetada. Por ser multissistêmica, pode afetar qualquer tecido ou órgão do corpo. A LES não tem causa conhecida e a principal causa de morte são as infecções crônicas que afetam o paciente. (NERO, et. al., 2003; RODRIGUES, et. al., 2017)

            As doenças autoimunes identificam o próprio organismo como um antígeno, por isso, atacam o próprio corpo, manifestando-se em qualquer região com inflamações diversificadas. Os sintomas do lúpus podem ser semelhantes às manifestações clínicas de outras doenças, por isso, é importante ter muita cautela ao concluir o diagnóstico de lúpus. Os sintomas podem surgir tanto de repente quanto paulatinamente, de maneira grave ou moderada, temporária ou permanente. A complexidade dessa doença é proporcional a sua importância clínica. (RODRIGUES, et. al., 2017)

            Os sintomas mais comuns do LES são: febre, fadiga, rigidez muscular, inchaços, dores nas articulações, dificuldade de respirar, dores no peito, ansiedade, mal estar, queda de cabelo, etc. Importante ressaltar que os sintomas dessa doença dependem basicamente de qual órgão foi afetado. Cerca de 50% dos casos demonstram inflamação renal, sendo, portanto, uma uma manifestação bastante frequente. Porém, alguns pacientes apresentam apenas sintomas de pele, um fenômeno denominado de Lúpus discoides. Além disso, o sofrimento psicológico é um fator importante que deve ser considerado ao avaliar o desenvolvimento do lúpus. (ARAÚJO & TRAVERSO-YÉPEZ, 2007; RODRIGUES, et. al., 2017)

            As lesões discoides, Figura 1, são mais comuns na face, pescoço e couro cabeludo, e são caracterizadas por placas avermelhadas. Essa lesão é específica de Lúpus Discoide. Os pacientes acometidos por esse tipo de lúpus têm 10% de chance de evoluírem para LES. Quanto maior o número de lesões, maior o risco de evolução. (RODRIGUES, et. al., 2017)

            Outra lesão bastante comum e que afeta cerca de 50% dos pacientes com lúpus é a lesão Rash Malar, tem característica avermelhada e encobre regiões como nariz e bochechas. Essas lesões duram alguns dias e retornam sempre que há exposição ao sol, ou exposição prolongada a luzes fluorescentes

                     Por ser uma doença crônica, cada paciente encara de uma forma diferente o desenvolvimento do lúpus, a partir de seus conceitos, sua história de vida, suas relações sociais, o contexto em que está inserida e suas experiências. Assim como uma pessoa pode construir uma ideia e perceber uma ordem, uma direção e sentido a partir da doença, outro paciente pode inferir que o desenvolvimento da LES fez a sua vida perder o rumo, ou sentido. Portanto, o comprometimento psicossomático do paciente demonstra a necessidade da atuação interdisciplinar na atenção e atendimento de indivíduos portadores de LES. (ARAÚJO & TRAVERSO-YÉPEZ, 2007)

            A estimativa aponta que no Brasil cerca de 200 mil pessoas são portadoras de Lúpus. E a cada ano, mais de mil novos casos são diagnosticados. No Nordeste brasileiro, a capital do Rio Grande do Norte, Natal, é a cidade com maior ocorrência de casos (8,7/100.000 habitantes), devido a sua forte exposição à incidência de luz solar praticamente durante todo o período do ano. (RODRIGUES, et. al., 2017)

            O diagnóstico do Lúpus Eritematoso Sistêmico é feito a partir da classificação proposta pelo American College of Rheumatology (ACR), que tem como fundamento a presença de pelo menos quatro dos onze critérios seguintes (SATO, et. al., 2002):

1) Eritema malar: lesão eritematosa fixa em região malar, plana ou em relevo;

2) Lesão discóide: lesão eritematosa, infiltrada, com escamas queratóticas aderidas e tampões foliculares, que evolui com cicatriz atrófica e discromia.

3) Fotossensibilidade: exantema cutâneo, como reação não usual à exposição à luz solar, de acordo com a história do paciente ou conforme observado pelo médico.

4) Úlceras orais/nasais: úlceras orais ou nasofaríngeas, usualmente indolores observadas pelo médico.

5) Artrite: artrite não erosiva envolvendo duas ou mais articulações periféricas, caracterizadas por dor e edema ou derrame articular.

6) Serosite: pleuris (caracterizada por história convincente de dor pleurítica ou atrito auscultado pelo médico ou evidência de derrame pleural) ou pericardite (documentado por eletrocardiograma, atrito ou evidência de derrame pericárdico).

7) Comprometimento renal: proteinúria persistente ( > 0,5 g/dia ou 3+) ou cilindrúria anormal.

8) Alterações neurológicas: convulsão (na ausência de outra causa) ou psicose (na ausência de outra causa).

9) Alterações hematológicas: anemia hemolítica ou leucopenia (menor que 4.000 leucócitos/ml em duas ou mais ocasiões) ou plaquetopenia (menor que 100.000 plaquetas/ml na ausência de outra causa).

10) Alterações imunológicas: anticorpo anti-DNA nativo ou anti- Sm, ou presença de anticorpo antifosfolípide baseado em: a) níveis anormais de IgG e IgM anticardiolipina; b) teste positivo para anticoagulante lúpico ou teste falso-positivo para sífilis, por no mínimo seis meses.

11) Anticorpos antinucleares: título anormal de anticorpo ou fator anti-nuclear (FAN) por imunofluorescência indireta (IFI) ou método equivalente, em qualquer época, e na ausência de drogas conhecidas por estarem associadas à síndrome do lúpus induzido por drogas.

 

            A uniformização dos critérios auxilia na conclusão do diagnóstico de pacientes com suspeita de LES, mas não exclui a possibilidade de existirem portadores de lúpus que apresentam menos de quatro critérios, pois apesar de ser uma situação rara, há casos. Os pacientes diagnosticados com LES precisam tomar medidas importantes que são recomendadas a eles (SATO, et. al., 2002) :

1) Educação: o paciente e seus familiares devem ser informados do que se trata a doença, sua evolução, prognóstico, riscos, recursos disponíveis para diagnóstico e tratamento. Recomenda-se a necessidade de cumprimento das medidas estabelecidas pelo médico.

2) Apoio Psicológico: é preciso transmitir ao paciente otimismo e motivação para o tratamento, além de estimular os projetos de vida.

3) Atividade Física: repouso nos períodos de atividade sistêmica da doença e medidas que busquem a melhora do condicionamento físico (estimular a atividade física regular);

4) Dieta: dieta balenceada, evitando excesso de sal, carboidratos e lipídios.

5) Proteção contra a luz solar e outras formas de irradiação ultravioleta.

6) Evitar tabagismo.

            A longo prazo, as complicações do LES podem ser classificadas em quatro grupos: alterações cognitivas, aterosclerose acelerada, evolução da própria doença e complicações ósseas. A evolução do Lúpus Eritematoso Sistêmico é responsável por causar as lesões crônicas no organismo, e são definidas como alterações irreversíveis clinicamente presentes, que se desenvolveram desde o início da doença, mesmo que atualmente a mesma não esteja ativa. (NERO, et. al., 2003)

            A maioria dos pacientes também apresenta reações adversas a fármacos como corticóides, AINE's, antipalúdicos de síntese, ciclofosfamida, azatioprina e metotrexato. Por isso, a escolha terapêutica deve ser de acordo com o órgão afetado. A sobrevida dos pacientes com LES aumentou significativamente a partir do controle das complicações (osteoporose, cistite, pielonefrite, candidíase oral, entre outras) e de doenças associadas (Síndrome de Sjögren, fibromialgia, artrite reumatóide, síndrome do anticorpo antifosfolípido). (NERO, et. al., 2003)

            Portanto, o Lúpus Eritematoso Sistêmico possui uma alta complexidade em relação a diagnóstico e tratamento, devido ser multissistêmica, podendo afetar todos os tipos de tecidos e órgãos, causando lesões graves ou moderadas, repentinas ou crônicas e que podem se tornar irreversíveis, e são a principal causa de morte do paciente. Os critérios de diagnóstico desenvolvidos pela ACR devem servir como um guia na avaliação de vários sistemas, mas é importante notar a prevalência de sinais e sintomas ausentes da lista de critérios, mas que estão frequentemente presentes no início do desenvolvimento da doença. (RODRIGUES, et. al., 2017)

            O paciente com LES necessita de tratamento interdiscilplinar que o ajude a encarar a doença de forma positiva, pois a doença apresenta um comprometimento psicossomático do indivíduo, por isso, a psicoterapia torna-se relevante, deve ser recomendada e estimulada. A observação e avaliação de cada caso, incluindo a história e experiências de vida do paciente, também é uma forma de tratamento que auxiliará na terapia medicamentosa. (ARAÚJO & TRAVERSO-YÉPEZ, 2007)

 

REFERÊNCIAS:

ARAÚJO, A.D.; TRAVERSO-YÉPEZ, M.A. Expressões e sentidos do lúpus eritematoso sistêmico (LES). Estudos de Psicologia, v.12, n.2, p.119-127. 2007.

NERO, P. et. al. Complicações e Doenças Associadas Ao Lúpus Eritematoso Sistêmico. Unidade de Reumatologia do Hospital de Egas Moniz, v.28, p.141-147, Lisboa, 2003.

RODRIGUES, D.D., et. al. Diagnóstico clínico e laboratorial do lúpus eritematoso sistêmico. Revista de Patologia do Tocantins, v.4, n.2, p.15-20, 2017.

SATO, E. I., et. al. Consenso brasileiro para o tratamento do lúpus eritematoso sistêmico(LES). Revista Brasileira de Reumatologia, v.42, n.6, p. 362-370, nov-dez, 2002.

               

 

Comentários